sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Insight






  Abobalhada, olho para o espelho e passo a observar o que sai de mim. 


  Surpreendo-me quando me deparo com pensamentos desconcertantes, disformes, confusos. Aonde quero chegar?


  Lembro do tempo em que minhas esperanças ainda ressoavam juvenis e hoje, ao me ver assim, pergunto o que me fez mudar tanto.

  Fecho os olhos na tentativa de buscar a razão entre as memórias do passado e me deixo levar pelas boas lembranças daquele tempo.

  Realmente não vi o tempo passar. Só a rugas que aos poucos se formam ao redor dos meus olhos me dão conta que muito tempo se passou.

  Queria voltar e fazer tudo diferente. A impossibilidade de atender ao meu desejo me incita à revolta. Paro, visto-me e resolvo ir praia.

  Quem sabe ao olhar as ondas do mar, me entretenho com a suas brancas espumas e deixo – me levar, confiante e tranqüila, assim como aquelas ondas que de tão longe vêm tocar os pés de quem delas se aproxima, num gesto de bênçãos e reverências. 

 No caminho observo a vida se desenvolvendo. Sinto o vento a afagar os meus cabelos, numa doce brisa a refrescar o corpo já aquecido pelos 20 minutos de caminhada. Vejo os carros e as pessoas dentro dele, indiferentes a toda beleza natural que os convida a com ela interagir. 


  Percebo as crianças a manobrarem as suas bicicletas, felizes e risonhas como se a felicidade com elas o tempo todo estivesse e volto-me para o céu. 



  Um lindo céu de anil, límpido e ensolarado anunciando a mais linda das estações: a das flores. 




   Estas, então, se faziam presentes durante todo o meu trajeto. Amarelas, cor-de-rosa, vermelhas, abertas, fechadas, com perfumes mil, uma variedade imensa! Olho pra mim novamente, agora sem espelho, e percebo o quanto estou melhor. 


 Meus pensamentos estavam alegres, serenos, agradecidos por tamanha generosidade e parei de reclamar e de me culpar por todos os percalços que havia cometido. 

  Eu estava ali, inteira, única, num momento único e descobri que nada me fazia ser diferente daquela criança. Ela aproveitava o momento intensa e alegremente. Enxergava com os seus pequenos e ingênuos olhos todo o esplendor que aquele momento podia fornecer. E eu estava fazendo o mesmo. 
  
   Não queria nunca mais ser diferente dela. Não queria viver no passado ou no futuro e me lembrar vagarosamente do momento em que eu definitivamente me encontrava. Queria absorver cada detalhe, cada oportunidade, cada sorriso, cada sentimento.


  
   Estava imensamente feliz e nada poderia alterar este estado de alma. 


  
  Percebi o quão tênue é a linha que nos separa de uma existência alegre e de uma existência triste. Afinal, as coisas continuavam do mesmo jeito e só a maneira de encará-las é que havia mudado.


  Agradeci profundamente pelo insight que havia tido e segui em frente, certa de que nada haveria de ser como antes.

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