quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Jura?




Busco neste momento as razões para um comportamento tão hostil. A sua voz ao telefone expressou as mais insignes repulsas, vertidas de um desinteresse jamais imaginado.
Não consigo imaginar o porquê de uma atitude tão arisca e desnecessária. Me refugio para as entranhas da minha memória e volto para o tempo em que tínhamos iniciado a nossa relação.
O amor a mim desvelado em constantes atos de ternura e dedicação agora só restava um vislumbre esvaecido, parco, havia sido tragado pelo tempo. Aonde deveria estar o amor que ele tantas vezes prometeu endereçar-me eternamente?
Não queria acreditar na possibilidade que me assaltava aos olhos: um ser que diz amar tratar o ser amado com tamanha indiferença.
E se fosse só aparente? E se na verdade isto fosse uma estratégia psicológica de autopreservação emocional?
Eram muitas perguntas e nenhuma resposta. Só achismos seguidos de ímpetos de claridade e resolução perseveravam em meu espírito, já débil pelas contínuas desforras.
Não era eu há um tempo obrigada a aceitar a imorredoura atenção dele para com a sua ex mulher, com repetidas juras de amor eterno?Não era eu a ouvir quantas vezes houvessem os contatos telefônicos, as expressões “papai”, “mamãe”, “narizinho”, “pezinho”, a ferir o mais íntimo das minhas expectativas de jovem encantada pela correspondência do seu 1º amor e iludida pelas promessas de um futuro feliz?
Por que ele não se preocupou em poupar-me de tais desgastes, quando hoje, faz questão de preservar a atual de tamanhos melindres?
Por que agora que me encontro na posição de ex-, que precipuamente até considerava privilegiada -, não tenho a honra de ter tais méritos, os mesmos da ex de quando estávamos juntos?
Falta de amor? Não. Ausência de gratidão e respeito?Não.
Talvez seja culpa e vontade de não errar de novo. Ou fuga de um sentimento ainda não superado.
A distância ajuda a cobrir com o pó do tempo, as feridas abertas. Se estão abertas, é porque não se amou o suficiente para libertar.
“Amar é desejar o bem do próximo e paixão é querer próximo o seu bem”, faz todo o sentido neste momento.
No final das contas, nem ele nem eu soubemos amar.
E quem saberá?

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Se









Ai se tu soubesses
Os mais pueris desejos que em mim alimentas
Se soubesses que ao dormir só a tua lembrança me conforta e me faz feliz
Que em nada mais penso senão em querer-te para mim
Que faço graça só pra te ver sorrir
E depois me deleitar com seus agradecimentos
Se soubesses quanto amor eu guardei sem saber
Que era só pra você...
Se tu soubesses, corresponderia?

Insight






  Abobalhada, olho para o espelho e passo a observar o que sai de mim. 


  Surpreendo-me quando me deparo com pensamentos desconcertantes, disformes, confusos. Aonde quero chegar?


  Lembro do tempo em que minhas esperanças ainda ressoavam juvenis e hoje, ao me ver assim, pergunto o que me fez mudar tanto.

  Fecho os olhos na tentativa de buscar a razão entre as memórias do passado e me deixo levar pelas boas lembranças daquele tempo.

  Realmente não vi o tempo passar. Só a rugas que aos poucos se formam ao redor dos meus olhos me dão conta que muito tempo se passou.

  Queria voltar e fazer tudo diferente. A impossibilidade de atender ao meu desejo me incita à revolta. Paro, visto-me e resolvo ir praia.

  Quem sabe ao olhar as ondas do mar, me entretenho com a suas brancas espumas e deixo – me levar, confiante e tranqüila, assim como aquelas ondas que de tão longe vêm tocar os pés de quem delas se aproxima, num gesto de bênçãos e reverências. 

 No caminho observo a vida se desenvolvendo. Sinto o vento a afagar os meus cabelos, numa doce brisa a refrescar o corpo já aquecido pelos 20 minutos de caminhada. Vejo os carros e as pessoas dentro dele, indiferentes a toda beleza natural que os convida a com ela interagir. 


  Percebo as crianças a manobrarem as suas bicicletas, felizes e risonhas como se a felicidade com elas o tempo todo estivesse e volto-me para o céu. 



  Um lindo céu de anil, límpido e ensolarado anunciando a mais linda das estações: a das flores. 




   Estas, então, se faziam presentes durante todo o meu trajeto. Amarelas, cor-de-rosa, vermelhas, abertas, fechadas, com perfumes mil, uma variedade imensa! Olho pra mim novamente, agora sem espelho, e percebo o quanto estou melhor. 


 Meus pensamentos estavam alegres, serenos, agradecidos por tamanha generosidade e parei de reclamar e de me culpar por todos os percalços que havia cometido. 

  Eu estava ali, inteira, única, num momento único e descobri que nada me fazia ser diferente daquela criança. Ela aproveitava o momento intensa e alegremente. Enxergava com os seus pequenos e ingênuos olhos todo o esplendor que aquele momento podia fornecer. E eu estava fazendo o mesmo. 
  
   Não queria nunca mais ser diferente dela. Não queria viver no passado ou no futuro e me lembrar vagarosamente do momento em que eu definitivamente me encontrava. Queria absorver cada detalhe, cada oportunidade, cada sorriso, cada sentimento.


  
   Estava imensamente feliz e nada poderia alterar este estado de alma. 


  
  Percebi o quão tênue é a linha que nos separa de uma existência alegre e de uma existência triste. Afinal, as coisas continuavam do mesmo jeito e só a maneira de encará-las é que havia mudado.


  Agradeci profundamente pelo insight que havia tido e segui em frente, certa de que nada haveria de ser como antes.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Para refletir





Em se partindo da premissa de que expectativa é a ânsia, o desejo de que algo que muito queremos se torne realidade e, considerando que o IDEAL é utopia, e, por conseguinte, não existe, por que nos decepcionamos?

O aniversário






        Depois de mais um dia voltado a observação indiferente e, por conseguinte, imparcial da rotina doméstica, assim que anoitece, uma vez satisfeitas as prescrições medicamentosas inerentes aos idosos, não recolho-me, como pensei em dizer; o recolher já é há muito tempo um estado natural. Apenas saio do caminho que é de bom tom nesses tempos nervosos. Minha nora que tem se mostrado pouco tolerante em relação a mim, mais haverá de ficar quando meu filho comunicar-lhe a sua mais recente decisão: A data do meu aniversário se aproxima, haverá comemoração depois de tantas passagens apenas lembradas.
        Quando meu filho fez-me saber da sua decisão, antes mesmo de pensar no que significaria para mim, ocorreu-me pensar que haveria resistência por parte de minha nora, o que acabou ocorrendo. No entanto, após breve discussão, ela embora relutante em dar-se por vencida, consentiu.
Não fiquem indignados por mim. Cheguei a uma fase da vida (comemorar-se à os meus oitenta anos de existência) em que um homem deixa de ressentir-se com aqueles que se opõem aos seus desejos, o que é compreensível, haja vista a intensidade com que esses costumes se manifestam.
Além do mais, há muito tempo compreendi que a velhice é a fase das alianças. Não nos é dado ignorar a importância dos lençóis trocados diariamente, das gotas de remédio que caem cuidadosamente umas sobre as outras no fundo das águas depositadas num copo, da pressão arterial medida sistematicamente todas as manhãs, culminado, por fim, no indispensável auxílio na hora dos banhos. Em tempos distantes, só de pensar na possibilidade de um dia, ter que expor meu corpo completamente destituído de atrativos ao olhar de uma outra pessoa, qualquer que fosse, enchia-me de pavor, no entanto, agora que a situação se apresenta, o corpo sem reação deixa-se banhar.
Faço esforço para sentir-me constrangido, ao perceber no rosto de minha nora, o insinuar de um sorriso só a muito custo reprimido diante da visão de partes que um dia tiveram funções variadas, e que hoje primam pela incontinência. Porém, a vaidade antecipou-se a mim: há muito que se foi.
A perspectiva da comemoração faz com que o velho cedro remonte aos tempos de infância. As imagens dos aniversários vêm à tona com força surpreendente. Vê-se a si mesmo, um menino tímido por natureza, e tornado ainda mais acanhado devido à insignificância do presente que tem em mãos. Aproxima-se então, tenso, na expectativa de que o aniversariante formulasse a pergunta que sabia inevitável: O que você trouxe pra mim? Antes mesmo que ele estendesse os braços no gesto de entrega, o presente era apanhado de suas mãos, quase sempre seguido de uma demonstração de repúdio – que tinha como conseqüência torná-lo esquivo e arredio, impedindo-o de vivenciar plenamente uma situação tão ansiosamente aguardada.
Por que tinha que ser sempre uma caixinha contendo três sabonetes? Se perguntava num repente de indignação ao sentir a desproporção existente entre o que oferecia aos aniversariantes e o brilho das festividades.
Quando a situação se invertia, e ele se via na condição de aniversariante, a timidez cedia lugar a indignação ao sentir a desproporção existente entre o que oferecia aos convivas e a natureza dos presentes recebidos. Agora, no entanto, em razão da ausência total de expectativas, não haveria frustrações. Antevia o bolo rodeado de velinhas, e também a natureza dos presentes que haveria de receber. Mentalmente vai repassando-os um a um: uma caixa de lenços –estampados, que são mais higiênicos -, alguns pares de meias, - certamente de cor escura -, água de cheiro – esta, sim, indispensável – e mais alguns itens, todos eles primando pela utilidade.
Tudo se passou conforme previu. No momento oportuno, aproximou-se do bolo, encheu os pulmões e soprou. Um sorriso de satisfação estampou-lhe no rosto ao comprovar que algumas velas permaneceram acesas. Tudo acontecera conforme o esperado – pensa -, enquanto enche de novo os pulmões de ar, preparando-se para uma nova investida... 


José Alberto Silveira Santos (meu pai)

Sorriso feito retrovisor

        



        Depois de uma rápida parada no ponto quase vazio naquele horário, o ônibus começou a se movimentar. Passei pela catraca e, antes mesmo de me acomodar, percebi um homem que corria desesperadamente tentando alcançá-lo. Não conseguiria, a menos que eu...Não, não o faria. O impulso de ajudá-lo foi subitamente interrompido pelas lembranças dos meus desacertos. Precisava de que situações como aquela se repetissem ao longo do dia, o que, esperava, me traria algum alívio até o final da tarde.
Não desejava que acontecesse nada de muito grave a ninguém. Pequenos tropeços me pareciam suficientes. Nada que me carregasse a alma. Pequenas culpas, como costumava dizer um amigo, não tinham natureza cármica.
         Mas o que via? O homem não desistiu, continuava a acenar e a correr num ritmo cada vez mais acelerado. Não o julgava capaz de correr assim tão rápido. Olhei para os outros passageiros, já me invadindo o receio de que pudessem vê-lo, porém, logo me tranqüilizei: estavam tão imersos nas suas preocupações que nada perceberam.
Repentinamente, como que atendendo ao meu desejo, o ônibus sem razão aparente, começou a ganhar velocidade. Olhei para o motorista, buscando um motivo para aquele súbito avançar, e o que vi? Um sorriso feito retrovisor. O sorriso de quem, desde o início, percebera tudo o que estava acontecendo e que, cúmplice, se regozijava ao ver minha expressão de alívio, à medida que o veículo se distanciava.
         Ele também tinha a necessidade de deleitar-se com o infortúnio alheio, na vantagem de estar amparado pela lei – afinal, o homem não se encontrava no ponto no momento certo. Era esta a sua forma de desforra: os retardatários.
         Através deles é que se vingava por ter que estar ali todos os dias, permitindo aos usuários o acesso a diversos lugares e interesses, e só raramente recebendo de alguns deles uma palavra de agradecimento. Ele, entretanto, lograva justificar-se. Mas...e quanto a mim?Que haviam feito a mim os retardatários? Pruridos de falsa moral, não importava que, de momento, não pudesse justificar-me. Olhei novamente para o motorista e senti no seu olhar o mais perfeito entendimento. Fiz minhas as suas razões, sorri e acenei para ele: éramos afins.

José Alberto Silveira Santos (meu pai)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Dizem que a gente aprende com o tempo


       Amar e, sobretudo, querer ser amado por alguém é um dos motivos que impulsionam e nos dá força para continuar vivendo. Nas buscas pela pessoa idealizada, quebramos muito a cara porque sempre deixamos que a expectativa e a idealização do que acreditamos ser, se torne real para nós, quando na verdade, na maioria das vezes, a realidade dos nossos “achismos” só existem mesmo para quem os produz. Esta é a famosa ilusão. Pois bem.

Eu estou muito mal impressionada com o mundo e com a qualidade das pessoas que vivem nele. Saio de um conto de fadas para cair na ‘caverna do dragão’, de onde para nos darmos bem, temos que usar de mil artifícios e buscar conhecer o ‘vingador’ sob pena de cair em seus desmandos.
Fui casada durante 7 anos com um ser de alto nível. Extremamente maduro, espiritualizado, inteligente, romântico, amigo, dotado de inúmeras qualidades e pouquíssimos defeitos, absolutamente releváveis. Com 5 meses de separada, ainda estava envolta na magia de um casamento maravilhoso, embora sem realizações no meu nível pessoal.
Acreditei, sinceramente, que os homens fossem iguais ou muito parecidos com ele. Na mocidade não vivi relacionamentos sérios e, por este motivo, não conheci o universo masculino a ponto de me deixar quase que, desacreditada, de encontrar alguém que valha a pena conviver.
O mundo realmente está virado ou sempre esteve e eu é que nunca percebi? A minha decepção com essa classe chega às raias de querer definitivamente viver PARA e COM Jesus. Será que conseguirei?
O descortinar deste mundo novo de relacionamentos me assusta ao mesmo tempo em que me excita. Como uma criança que descobre os sabores pela primeira vez, me sinto impelida a de tudo provar para ver como é. Não que eu faça, óbvio.
Esses dias vivi algo muito curioso que me trouxe indeléveis ensinamentos. Descobri como sou ingênua. Tenho medo que as porradas da vida não me enrijeçam o couro a ponto de me transformar em alguém extremamente desconfiado. Confio demais, acredito demais, sou sincera demais. Isto, sem falsa modéstia, me eleva ao status de ser em extinção.
Que triste ser diferente só por seguir o coração...
Vivemos num mundo que para se conquistar alguém é preciso calar, sumir, não ligar quando se tem vontade, fazer de tudo e mais um pouco para ocultar os mais finos sentimentos; tudo para mostrar que não se tem o mínimo interesse. Se você fizer isso, é quase 100% de certeza que o outro vai te procurar. E, ainda tem o velho clichê: “tudo que é mais difícil é mais gostoso”. Eu não acho.
Somos quase que obrigadas a entrar no jogo das ilusões amorosas e saber jogar muito bem, se não...
Não é possível que não exista por aí alguém tão verdadeiro e sincero consigo mesmo que não se permita calar quando o que se quer é falar. Dizer que quer, que gostou, que ama...e também o contrário de tudo isso!Mas que seja a verdade!
Não é possível que não exista por aí alguém que valorize outro alguém que não queira fazer parte  desses detestáveis joguinhos amorosos!
Se você entra no jogo, dificilmente vai pescar alguém que valha a pena. Mas se você ser você mesma e encontrar alguém que conhecendo você como é, a aceite por ser assim, será muito, muito melhor.
Alguém especial merece outrem tão especial quanto: “O meu tá guardado”.
Porém, adotar uma postura sincera tem as suas conseqüências. Nem todo mundo está preparado para assumir o que sente e nem de lidar com que assume esta postura.
Se esta for a sua escolha, se prepare para não esperar reconhecimento e nem respeito pelo ato de nobreza moral que você está tendo. Seja segura de si mesma e se fortaleça para não criar nenhum tipo de expectativa. Se não conseguir ser assim, é melhor fazer os joguinhos e dominar as regras do mundo ilusório chamado Terra.
Eu quero alguém especial que seja digno de mim e que me aceite como sou.
Se vai dar certo ou não, só mesmo o tempo para dizer. Enquanto isto não acontece, vou vivendo, conhecendo as regras de um jogo com o qual não desejo brincar. Quando me cansar de ser eu talvez jogue um pouco e me entregue às ilusões dos bons jogadores e, quem sabe, me torne uma também. Quanto a isto, a gente aprende com o tempo com quem jogar e com quem não jogar.
Dizem que a gente aprende...com a vida.